Ir ao dentista – A Herança do Medo

O medo de ir ao dentista parece estar enraizado há muito na nossa cultura. Décadas de histórias assustadoras com abcessos, extrações e agulhas, deixaram uma herança que teima em passar de geração em geração. Isso implica que os membros da família são, muitas vezes, um dos principais promotores do medo das crianças, transferindo de forma natural, mas inconsciente, a sua ansiedade aos petizes. Por outro lado, sentar numa cadeira, rodeado de estranhos e objetos peculiares, pode representar uma experiência negativa que não queiram repetir. Assim, ajudar os pais a ultrapassar essas dificuldades e a levar as crianças ao dentista, torna-se uma necessidade para promover bons hábitos de higiene e manter os seus dentes saudáveis.

Ir ao dentista - A Herança do Medo

Dois dos principais fatores de aprendizagem de uma criança são a imitação e a repetição. Seja um bom exemplo e mantenha a sua própria saúde oral. Passe o fio dentário, escove, bocheche com elixir e faça as suas próprias visitas regulares ao dentista. Idealmente, envolva-a nessas atividades diárias desde tenra idade. Logo que surjam, escove sempre os dentes e as gengivas do seu bebé, com uma dedeira ou gaze húmida, após cada refeição. Desta forma cria-se uma rotina saudável que posteriormente seria mais difícil de introduzir.

A primeira ida ao dentista deve acontecer sensivelmente pelo primeiro ano de idade. Aqui, o principal intuito é familiarizar o pequeno e instruir os pais com alguns procedimentos básicos essenciais para a saúde oral do filho. Selecione uma clínica preparada para receber crianças. Espaços próprios, coloridos, com bonecos e jogos de vídeo, ajudam a que se sintam mais à vontade. Opte sempre por um odontopediatra em detrimento do habitual médico dentista, pois são profissionais com formação mais específica para interações e tratamentos com os mais novos.

Ir ao dentista - A Herança do Medo

À medida que a criança cresce, como habitual, vão começar a surgir questões. Mantenha uma atitude despreocupada, responda diretamente às perguntas mas não entre em grandes detalhes. Para que melhor perceba o que a espera, brinque e simule a situação, procurando sempre promover a confiança no médico. Sente-a num cadeirão ou sofá e finja que é o dentista. Peça-lhe para abrir a boca e, com a ajuda de, por exemplo, uma pequena lanterna e uma escova, conte os dentes dela ou de um boneco favorito. Diga que vai à procura de “bichinhos do açúcar”, para que os possa remover e deixar os dentes limpos e felizes.

Contrariamente, existem alguns erros comuns que devemos evitar. Não use palavras de conotação negativa, como dor, pica ou desconforto. Não profetize, nem pela positiva nem pela negativa. Dizer ao médico, à frente da criança, que esta não vai deixar sequer abrir a boca, é, além de errado, mais frequente do que possa imaginar. Por outro lado, reforçar que vai tudo correr bem também não é correto, uma vez que, caso venha a precisar de algum tratamento, a criança pode perder a confiança em si ou no médico. É ainda recorrente o uso de suborno. Prometer guloseimas, brinquedos ou passeios a um local favorito, além de ser um mau princípio, e de passar a ideia errada acerca do açúcar – no caso das guloseimas -, desvia da verdadeira recompensa que deve ser incutida, a de obter dentes limpos, fortes e saudáveis!

Em suma, para que as visitas do seu filho ao dentista sejam tranquilas, não esqueça: Envolva-o na sua rotina de higiene diária desde muito cedo; brinque e simule com ele; mantenha atitude despreocupada e positiva; não profetize; evite associar recompensas; opte por um odontopediatra. Finalmente, quando chegar o dia da visita, deixe-o levar um brinquedo favorito e envolva-o na dinâmica social da clínica. Apresente e fale com toda a equipa – desde rececionistas, assistentes a médicos -, para que, aos poucos, se vão tornando mais familiares. Siga as suas instruções e não se preocupe se ocorrer alguma birra.

Mantenha a calma e lembre-se que tem perante si profissionais habituados a lidar com as vicissitudes do atendimento aos mais pequenos.