As 10 principais dúvidas sobre os dentes dos seus filhos

Descubra as 10 principais dúvidas sobre os dentes dos seus filhos desmistificadas pela Drª Leonor Patinha, médica dentista (Odontopediatria e Ortodontia) na Clínica Dr. Pinheiro Correia.

1. Qual a idade ideal para a primeira consulta da criança no dentista?

Quando me colocam esta questão, costumo responder meio a brincar meio a sério: “Quando ainda está na barriga da mãe”. A verdade é que os futuros pais em geral e a grávida em particular demonstram uma enorme vontade de aprender tudo o que diga respeito ao bebé. Se forem bem informados e orientados pelo Odontopediatra vão saber agir da melhor maneira e fazer as escolhas mais acertadas relativamente à Saúde Oral do seu filho. Sendo certo que é sempre mais fácil adquirir desde o início o hábito correcto, que corrigir um incorrecto depois de instalado.

De qualquer forma, recomenda-se que a criança visite o Odontopediatra com o nascimento do primeiro dente de leite ou até ao primeiro ano de idade.

Esta primeira consulta é muito importante para estabelecer laços de confiança, avaliar a saúde oral da criança e sobretudo para transmitir informações sobre formas de prevenção, detectar e corrigir hábitos nocivos e definir o Nível de Risco de Cárie.

2. Quando deve ser iniciada a higiene oral da criança e como deve ser feita?

Desde o nascimento que a higiene da boca do bebé deve fazer parte da rotina de higiene diária. Pode começar por usar uma compressa humedecida para limpar os vestígios de leite e a partir do momento em que nasce o primeiro dentinho, uma escova pequena e macia. O bebé aprecia esta massagem da sua gengiva e este momento pode ser entendido como uma brincadeira agradável.

3. E deve ser usada pasta dentífrica com Flúor? A partir de que idade?

O Flúor é um elemento importante no processo de remineralização do esmalte dentário e nessa medida deve estar presente desde o aparecimento dos primeiros dentes. A sua aplicação tópica, através do uso de pasta dentífrica fluoretada (1000-1500 ppm mg/l ) é uma medida eficaz para aumentar a resistência do dente ao ataque diário dos ácidos provenientes da alimentação. Aquilo que se recomenda é a utilização de um “grão de arroz” de pasta dentífrica na escovagem dos dentinhos dos bebés até aos 3 anos de idade e uma quantidade idêntica ao tamanho da unha do dedo mindinhos das crianças entre os 3 e os 6 anos. É preciso não esquecer que a escovagem dos dentes das crianças nestas idades deve ser supervisionada e os pais devem ensinar a cuspir e não engolir a pasta e efectuada no mínimo duas vezes ao dia, sendo a última obrigatoriamente antes de deitar.

4. Já não se usam os suplementos de Flúor?

Quando o Nível de Risco de Cárie é elevado e não há sinais de redução desse risco sim, é aconselhável a administração de comprimidos de Flúor diários, ou aplicação de verniz fluoretado pelo Higienista oral ou pelo Médico dentista de 6 em 6 meses ou ainda realização de bochecho de Flúor quinzenal que pode ser feito nas escolas, por exemplo. Mas é preciso ter noção que isto não impede o aparecimento de cáries.

5. Que outras medidas devem ser tomadas para evitar o aparecimento de cáries precoces?

Para além da escovagem, é muito importante não permitir que o bebé passe muito tempo com o biberão na boca, principalmente com líquidos ou papas açucaradas e sumos de fruta, já que o contacto directo destas soluções açucaradas provoca a desmineralização dos dentes e consequente aparecimento de cáries. Com as crianças mais crescidas é preciso limitar a frequência da ingestão de lanches açucarados. Tornar o consumo de doces esporádico e privilegiar o consumo das frutas e legumes. Da minha própria experiência enquanto mãe e profissional, os erros alimentares mais comuns são os cereais infantis ao pequeno-almoço e os lanches açucarados que as crianças levam para a escola. Infelizmente são em grande parte responsáveis pelos números estatísticos que indicam que em Portugal, 40% das crianças até aos 6 anos já tem uma ou mais cáries.

6. Os dentes de leite cariados também requerem tratamento?

Sim. Os dentes de leite, embora temporários, vão permanecer na boca da criança até cerca dos 11 anos. Cumprem funções estéticas, fonéticas e mastigatórias, influenciando o crescimento dos maxilares, a respiração e a deglutição. Quando são afectados por cárie, podem provocar dores e infecções, que têm de ser tratados, sob pena de prejudicarem os dentes permanentes e a saúde da criança, em geral. Por outro lado, os dentes de leite guiam a erupção dos dentes permanentes, sendo a sua perda precoce, causa de mau posicionamento ou deficientes erupções dos mesmos.

7. O uso de chupeta é prejudicial para a criança? Até que idade é admissível a sua utilização?

O hábito de sucção existe desde a vida intra-uterina e é preciso não esquecer que é pela via oral que o bebé descobre o mundo externo. Este mecanismo de sucção não nutritivo, permite que se acalme e regra geral, se não tiver à sua disposição uma chupeta vai procurar outros objectos e numa fase inicial, os próprios dedos. Por experiência própria, já que a minha filha mais nova chuchou no dedo, entendo que este é um hábito mais difícil de abandonar pelo que acho preferível o uso da chupeta. Até aos dois anos de idade o hábito deve ser abandonado, sob pena de influenciar negativamente o crescimento dos maxilares da criança.

8. Que sinais devem alertar os pais para a necessidade de aparelho ortodôntico?

Há realmente situações que requerem intervenção precoce e designamos essa área da Ortodontia como Ortodontia interceptiva. Quando a criança é regularmente seguida por um Odontopediatra, será ele quem deve detectar os primeiros sinais de alerta. Sinais como uso de chupeta para além dos 3 anos ou respiração predominantemente oral (a criança dorme de boca aberta), alterações fonéticas relacionadas por exemplo com o hábito de posicionar a língua entre os dentes, mordida aberta (quando há um espaço entre os dentes superiores e inferiores que impede a criança de morder), ou mordida demasiado fechada (quando ao cerrar os dentes, esconde quase ou completamente os dentes inferiores). Quando as linhas médias dentárias superior e inferior não coincidem e há desvio da mandíbula para um dos lados (mordida cruzada), dentes apinhados ou projectados para a frente. Como disse, o ideal é que a criança esteja a ser acompanhada por um Odontopediatra que possa avaliar todas estas situações e no caso de não realizar o tipo de tratamento necessário, encaminhar para outro profissional.

9. Porque é tão importante procurar um Odontopediatra?

Um Odontopediatra é um Médico Dentista que para além da sua formação geral, tem formação específica no atendimento de crianças e pacientes com necessidades especiais. É importante que tenha jeito para lidar com os mais pequenos mas não se trata apenas disso. Há técnicas específicas e tratamentos mais adequados que dependem não só do problema em si mas também da idade e da personalidade da criança. É preciso não esquecer que as primeiras consultas vão determinar a forma como a criança vai encarar as futuras visitas ao dentista. É aconselhável que os pais se informem e não tenham receio de perguntar pelas credenciais do Médico.

10. Como devemos preparar uma criança para a sua primeira consulta no dentista?

Idealmente a criança cresceu com o seu Odontopediatra e esta questão nem se coloca. Se a criança já é mais crescida é conveniente explicar-lhe de uma forma natural e tranquila que esta consulta serve para observar os seus dentes e verificar se estão todos bem. É importante transmitir confiança no Médico e acima de tudo nunca depositar na criança os seus próprios receios.

Uma vez na consulta, os pais devem permitir à criança mostrar a sua curiosidade pelo gabinete médico-dentário. Da mesma forma é fundamental que se deixem guiar pelo Odontopediatra. É frequente perceber que os pais estão demasiado preocupados com o que a criança está a fazer ou a tocar, mas devem compreender que a equipa médica está atenta e habituada a lidar com essa curiosidade. Por certo não permitirão que a criança se magoe e, por outro lado, a observação do comportamento da criança e o estabelecimento das primeiras regras dentro do gabinete, será muito útil para as consultas futuras.

Nos primeiros contactos com a criança, todos os pormenores são muito importantes. O odontopediatra necessita estabelecer com ela uma relação de proximidade e confiança onde o olhar, o toque e a voz se revestem de uma enorme importância e constituem a base do êxito do tratamento. As interferências dos pais, ainda que bem intencionadas, acabam por interromper o fio condutor do trabalho do médico, atrasando o fortalecimento da relação com o paciente.